sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Credo Caiçara - Poesia de Flávio de Araújo

Creio no pirão de gonguito com banana bacubita.
Na roça de feijão guandu, na cepa de mandioca
de sete ramas, no doce da cana caiana,
no limão em puxa-puxa.
Creio no café de garapa, na cavala salpresa.
No cará com melado, no desbulhar do milho,
no manuê de bacia e no cardo de caranha.
Creio no poder das ervas:
No chá de boldo amargoso no gorgomilo, no chá de losna,
no banhado de arnica e na santa Maria socada
com sal grosso e cânfo.
Creio na canoa de voga, no cerco na espia,
no espinhel preso à pôita, na rede de minjuada no lagamar.
Creio no remo de guacá, no samburá de imbé,
no náilon 0.40, na faca amolada em pedra de cachoeira.
Creio na tribuzana, nos primeiros ventos do sudunga,
nas gaivotas sobre as traineiras.
Nas modas de viola, rabeca e sanfona.
No mergulho da tesoureira.
Creio na rede tingida em casca de jacatirão e aroeira.
Na tainha com barriga de ova, no jirau de taquara,
no varal pra secar o peixe escalado, no caniço de bambu japonês.
Creio na voz do Brasil, na cabeça de maré,
no barro pro estuque e no covo.
No gemido do gaturamo e na malhação do Judas.
Creio no óleo de babosa, nas cantigas de roda,
nos barquinhos de cacheta e cajuja.
No olho dágua, no cachorro paqueiro.
Creio na chinela de dedo, na galinha botadeira.
Creio no furo do busano, no forneio de farinha,
No pargueiro, no calafeto de betume, nas lulas no zangarêio.
Creio na foice Tremontina, no bodoque de goiabeira,
No trabissero de marcela.
Creio no borrachudo, na lagosta pitu,
No guaiá, no marisco sururu.
Creio na corosena do fifó, na gadanha e na enxó.
No azulado do perau, no clareio depois do fuzilo.
Creio em Deus pai,
Creio em Deus filho.
E no Espírito Santo tumém.
Caiçara com muito orgulho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário